Diretora de 'Elena' mergulha na mente de artista grávida

30/11/2014 por Guilherme Genestreti na Folha Ilustrada

"Olmo e a Gaivota", novo filme de Petra Costa e da dinamarquesa Lea Glob, é fruto de múltiplas tensões: entre o documentário e a ficção, entre os objetivos distintos das diretoras e, sobretudo, daquelas que permeiam a mente da atriz Olivia Corsini, que mergulha em si mesma ao engravidar.

"Essa criança vai me dar força, mas sinto que estou forçando-a para ser a solução da minha incapacidade de lidar com a solidão", diz ela em certo momento do filme, com previsão de estrear em 2015.

O longa partiu de convite do Festival de Copenhague, que propunha a codireção por realizadoras que não se conheciam. O filme cavouca a intimidade do casal Serge e Olivia, atores do grupo Théâtre du Soleil, uma das companhias mais importantes do mundo.

Em "Olmo e a Gaivota", os atores são levados a encenar a própria convivência: o que é ficção e o que é documentário não fica muito claro. "O documentário oxigena a frieza da ficção. Mas para entrar na intimidade de banheiros, de cenas íntimas, a ficção era necessária", diz Petra à Folha.

Divulgação
A atriz Olivia Corsini, cuja gravidez é mote de documentário

Para confundir a fronteira, trabalhar com atores foi fundamental. "Eles evidenciam melhor do que ninguém que a vida é representação. Quanto o que vivemos não é encenação?", indaga a diretora.

Em "Elena", documentário brasileiro mais visto de 2013, Petra já havia enchido a tela com imagens oníricas de Ofélias –personagem da peça "Hamlet"– boiando para tratar do suicídio de sua irmã.

"Olmo..." também traz seus registros poéticos: a solidão de Olivia, as divagações que faz e seu trabalho nos palcos.

"Me interessa quebrar a objetividade do documentário com imagens sensoriais", diz.

Sua colega dinamarquesa, contudo, se opôs no começo, conta. "Ela vem de uma tradição de documentário clássico, gosta de coisas mais realistas." Mas Petra queria algo que usasse o método teatral, com propostas de improvisação diante de situações reais.

O meio-termo é um longa que bebe da estrutura do romance "Mrs. Dalloway", de Virginia Woolf, sobre a vida subjetiva dos personagens que rodeiam a protagonista.

"Não imaginava que codirigir era pior que casar", afirma a brasileira de 31 anos. "Mas foi essa tensão toda que deu complexidade ao filme."

Quando Olivia viu o corte final do filme, conta a diretora, ficou insegura. "Ela teve dúvidas sobre como seria julgada pelo filho. Dizia ter uma relação mais amorosa com ele do que a que é mostrada."

'ELENA' NO OSCAR

Ao comparar seus filmes, Petra diz crer que ambos tratam de ritos de passagem. "O primeiro, da adolescência para a vida adulta. O outro, o seguinte: a maternidade." Mas diz que cada um parte de premissas opostas. "O Elena' mostrava que a morte pode ressignificar a vida. O Olmo' mostra isso com o nascimento."

Enquanto espera o lançamento do novo filme, Petra também aguarda resposta sobre "Elena". O filme é um dos 134 longas que figuram da lista de inscritos ao Oscar de melhor documentário em 2015.


Petra Costa volta a mergulhar no universo íntimo feminino

12/12/2014 por Mariana Pitasse em Brasil Econômico

12/12/2014 | 09:58 - Atualizado em: 12/12/2014 | 13:08

Petra Costa volta a mergulhar no universo íntimo feminino

Em “Olmo e A Gaivota”, a diretora imerge na mente de uma mulher durante os nove meses de sua gravidez e trabalha mais uma vez em território sinuoso entre o documentário e a ficção

Redação Brasil Econômico redacao@brasileconomico.com.br

No longametragem “Elena”, lançado em 2013, a diretora Petra Costa filma um mergulho profundo em pensamentos e memórias de sua própria história. Ao recontar a curta trajetória da irmã, que parte para Nova York aos 20 anos com a vontade de ser atriz de cinema, mas acaba morrendo de uma maneira trágica, Petra se debruça sobre um trauma latente a fim de desatar um nó. Através de uma linguagem delicada, o filme narra o reencontro de Petra e sua irmã, como uma necessidade para deixá-la, enfim, partir. Após sensibilizar público e crítica em “Elena”, a jovem diretora se mostra pronta para alçar voo em outro drama existencial. Em seu novo projeto “Olmo e A Gaivota”, codirigido com a dinamarquesa Lea Glob, Petra imerge dentro da mente de uma mulher durante os nove meses de sua gravidez. “O que me motiva a fazer cinema é a capacidade que ele tem de penetrar nos pensamentos das pessoas. Tentar chegar onde incomoda, porque é daí que sempre sai algo pulsante”, afirma a diretora, que também é atriz e tem formação em psicologia.

Menos melancólica que em “Elena”, Petra se coloca novamente no lugar da investigação de temáticas do subconsciente. Equilibrando-se em um difícil desafio, a diretora trabalha mais uma vez em território sinuoso entre o documentário e a ficção, ao trazer às telas outra experiência íntima. Em “Olmo e A Gaivota” ela narra um rito de passagem da vida da atriz Olivia Corisini, da companhia de teatro francesa “Théâtre Du Soleil”.

A diretora Petra Costa
Foto: Divulgação

Inspiradas na obra “Mrs. Dalloway”, de Virginia Woolf, e na peça “A Gaivota” de Tchekhov, as diretoras Petra e Lea apresentam Olívia e seu namorado, Serge, interpretando suas próprias vidas. “A ficção funciona como um artifício, em que você consegue criar a passagem aos pensamentos mais secretos. Se utilizasse somente a linguagem do documentário seria mais difícil penetrar na história”, explica.

O filme, que foi produzido pela Zentropa (produtora dos filmes de Lars von Trier na Dinamarca) O Som e a Fúria, de Portugal, e Busca Vida Filmes, do Brasil, surgiu como um convite do festival dinamarquês “CPH:DOX”. As diretoras, que não se conheciam, tiveram uma semana para chegar a um tema comum. Após conflito de ideias, conseguiram alinhavar um meio termo entre seus objetivos individuais.

“O tempo inteiro o espírito crítico é forte quando se divide a direção. O exercício de conseguir compartilhar e negociar ideias é bastante trabalhoso. Apesar de difícil, acho que a diferença de olhares enriqueceu o produto final”, conta Petra.

Além das díspares culturas e interpretações que moldaram a narrativa, o roteiro ainda foi acrescido de um elemento surpresa. “Ficamos sabendo que a Olívia estava grávida após convidá-la, então, decidimos incorporar essa nova situação à narrativa, o que a deixou mais rica. Começamos a trabalhar como a gravidez dá um novo sentido à vida da mulher. No caso específico, como uma atriz, que trabalha o tempo todo com seu corpo, se vê como um veículo para gerar uma vida”, conta Petra.

E, assim, como em um ciclo, mais uma vez, Petra se aproxima de ‘Elena’. “Os dois filmes problematizam a mulher, a atriz, no lugar do sacrifício. Como em um movimento de continuidade, em ‘Elena’ mostrei a passagem da adolescência para a vida adulta, agora me debruço sobre a transformação seguinte da vida da mulher, a maternidade. Porém, ‘Elena’ mostra como ressignificar a vida através da morte e ‘Olmo’ ressignifica através do nascimento”, conclui. Já premiado no festival “CPH:DOX“, “Olmo e A Gaivota” chega aos cinemas brasileiros no segundo semestre de 2015. Mariana Pitasse ( mariana.pitasse@brasileconomico.com.br )


Gravidez é tema de filme em Locarno

19/07/2015 por Rui Martins no Correio do Brasil

Filme brasileiro em co-produção, Olmo e a Gaivota, está na competição da mostra Cineastas do Presente, em Locarno
Filme brasileiro em co-produção, Olmo e a Gaivota, está na competição da mostra Cineastas do Presente, em Locarno

O filme Olmo e a Gaivota, dirigido pela premiada cineasta brasileira Petra Costa com a dinamarquesa Lea Glob, está na competição da mostra Cineastas do Presente. Vai estrear dia 10 de agosto e com ele aumenta para nove o número dos filmes brasileiros no 68.Festival Internacional de Cinema de Locarno. Olmo e a Gaivota tinha sido premiado no Festival Internacional de Documentários de Copenhague, quando em fase de finalização.

O tema do filme Olmo e a Gaivota não é apenas a gravidez mas uma reflexão sobre as limitações e opções impostas pela vida feminina, reunindo ficção com a realidade e teatro clássico com documentário. A ficção vem do livro Senhora Dalloway, de Virginia Woolf, e a realidade de um casal de atores do elenco do Théâtre du Soleil, de Ariane Mnouchkine.

A atriz se prepara para interpretar Arkadina, na peça A Gaivota de Tchekov, quando descobre estar grávida. A princípio, imagina ser possível interpretar seu papel mesmo grávida, porém à medida que seu ventre cresce, surge o temor de precisar sacrificar aquele momento importante de sua carreira pela maternidade. Um inesperado sangramento, que a obriga ficar em repouso apressa essa situação. O desejo de fazer carreira teatral se choca com a transformação do seu corpo, onde um novo ser vai tomando forma.

A atriz principal é a italiana Olivia Corsini e o ator o francês, também diretor de teatro, Serge Nicolai, ambos do Théâtre du Soleil, estiveram recentemente no Brasil. O filme é coproduzido pela Dinamarca, Brasil e Portugal, falado em francês.

A cineasta mineira Petra Costa já dirigiu Olhos de Ressaca, curta-metragem, premiado no Rio, Gramado e outros festivais, e Elena, longa-metragem, premiado no Festival de Brasília.

Depois de ter partilhado a sua dor através de um tributo intimo à sua falecida irmã, Petra Costa decide explorar as crises existenciais de uma atriz promissora, Oliva, cuja vida se altera drasticamente após a descoberta da sua gravidez.

Tal como a sua primeira longa-metragem , Elena, Costa regressa ao estilo inconformado do documentário, numa reinvenção com pé assente na fição e outro no limiar da realidade e da manipulação cinematográfica. Poderíamos salientar que em Olmo e a Gaivota somos remetidos à estranheza, a bizarria da forma narrativa e através disso a uma viagem direta para sentido vital da sua protagonista / vitima. Enquanto que em Elena o espectador sentia incomodo por penetrar em territórios tão pessoais da autora, nesta nova longa-metragem (em colaboração com Lea Glob) temos a tendência de julgá-la pela persistência de entranhar na vida, ainda a ser "escrita", da sua atriz, mesmo que esta demonstre por várias ocasiões as fronteiras impenetráveis e proibidas do seu ser.

Um exercício narrativo que tem sido várias vezes comparado com os triunfos literários atingidos por Virginia Woolf (Mrs. Dalloway). A obra assenta num diversificado registo tão distinto da autora, que se comporta como uma entidade divina no preciso momento em que chega a transformar a sua própria realidade, como se esta fosse barro maleável pronto para uma exibição. É uma peça de arte, se assim acreditarmos, que reúne a perfomance artística em conjugação com uma veia teatral forte (a protagonista é uma atriz de teatro em plena encenação de A Gaivota, de Anton Tcheknov, logo é evidente essa matriz) com a complexidade literária; a experimentação dos pensamentos da sua "heroína" como conduta narrativa a reter. Aliás, ela é o leme, enquanto as realizadoras adquirem um papel de almirantes em alto-mar.

Os medos da maternidade, a cedência às trivialidades do quotidiano e os sonhos desfeitos em prol do ciclo que a vida suscita, são pontos de reflexão que Oliva contrai , sujeita às intervenções das suas respetivas "patroas", agora ditadoras do seu dia-a-dia. Uma luta assinalada como se uma gaivota resistisse à tempestade. Olivia é essa gaivota (alusão ao filme), contando com Serge, o seu "olmo", a árvore medicinal que contrabalança a sua alma enclausurada.

Uma história de amor atormentada, mas rica em momentos românticos que salientam o seu "quê" de realidade, e tal é testemunhado logo nos primeiros minutos, onde Serge recita com tanta afeição Mi Sono Innamirato di Te (Luigi Tenco). Ocasionalmente belo e narrativamente utópico, Olmo e a Gaivota é uma peça-mestre na maleabilidade narrativa, e mostra como Petra Costa poderá tornar-se mais que somente uma promessa: uma poeta visual. Apesar de tudo, e infelizmente, não é o turbilhão de emoções que Elena fora, essa ainda (um pouco) desconhecida pérola do género documental.

O melhor - A complexidade narrativa e de temas partilhados nesta experiência fílmica
O pior - Petra Costa ainda ser ignorada em Portugal, nem mesmo devidamente mencionado pela imprensa.

- See more at: http://www.c7nema.net/outras-criticas/item/44054-olmo-e-a-gaivota-por-hugo-gomes.html#sthash.GRxInsiX.dpuf

Depois de ter partilhado a sua dor através de um tributo intimo à sua falecida irmã, Petra Costa decide explorar as crises existenciais de uma atriz promissora, Oliva, cuja vida se altera drasticamente após a descoberta da sua gravidez.

Tal como a sua primeira longa-metragem , Elena, Costa regressa ao estilo inconformado do documentário, numa reinvenção com pé assente na fição e outro no limiar da realidade e da manipulação cinematográfica. Poderíamos salientar que em Olmo e a Gaivota somos remetidos à estranheza, a bizarria da forma narrativa e através disso a uma viagem direta para sentido vital da sua protagonista / vitima. Enquanto que em Elena o espectador sentia incomodo por penetrar em territórios tão pessoais da autora, nesta nova longa-metragem (em colaboração com Lea Glob) temos a tendência de julgá-la pela persistência de entranhar na vida, ainda a ser "escrita", da sua atriz, mesmo que esta demonstre por várias ocasiões as fronteiras impenetráveis e proibidas do seu ser.

Um exercício narrativo que tem sido várias vezes comparado com os triunfos literários atingidos por Virginia Woolf (Mrs. Dalloway). A obra assenta num diversificado registo tão distinto da autora, que se comporta como uma entidade divina no preciso momento em que chega a transformar a sua própria realidade, como se esta fosse barro maleável pronto para uma exibição. É uma peça de arte, se assim acreditarmos, que reúne a perfomance artística em conjugação com uma veia teatral forte (a protagonista é uma atriz de teatro em plena encenação de A Gaivota, de Anton Tcheknov, logo é evidente essa matriz) com a complexidade literária; a experimentação dos pensamentos da sua "heroína" como conduta narrativa a reter. Aliás, ela é o leme, enquanto as realizadoras adquirem um papel de almirantes em alto-mar.

Os medos da maternidade, a cedência às trivialidades do quotidiano e os sonhos desfeitos em prol do ciclo que a vida suscita, são pontos de reflexão que Oliva contrai , sujeita às intervenções das suas respetivas "patroas", agora ditadoras do seu dia-a-dia. Uma luta assinalada como se uma gaivota resistisse à tempestade. Olivia é essa gaivota (alusão ao filme), contando com Serge, o seu "olmo", a árvore medicinal que contrabalança a sua alma enclausurada.

Uma história de amor atormentada, mas rica em momentos românticos que salientam o seu "quê" de realidade, e tal é testemunhado logo nos primeiros minutos, onde Serge recita com tanta afeição Mi Sono Innamirato di Te (Luigi Tenco). Ocasionalmente belo e narrativamente utópico, Olmo e a Gaivota é uma peça-mestre na maleabilidade narrativa, e mostra como Petra Costa poderá tornar-se mais que somente uma promessa: uma poeta visual. Apesar de tudo, e infelizmente, não é o turbilhão de emoções que Elena fora, essa ainda (um pouco) desconhecida pérola do género documental.

O melhor - A complexidade narrativa e de temas partilhados nesta experiência fílmica
O pior - Petra Costa ainda ser ignorada em Portugal, nem mesmo devidamente mencionado pela imprensa.

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Depois de ter partilhado a sua dor através de um tributo intimo à sua falecida irmã, Petra Costa decide explorar as crises existenciais de uma atriz promissora, Oliva, cuja vida se altera drasticamente após a descoberta da sua gravidez.

Tal como a sua primeira longa-metragem , Elena, Costa regressa ao estilo inconformado do documentário, numa reinvenção com pé assente na fição e outro no limiar da realidade e da manipulação cinematográfica. Poderíamos salientar que em Olmo e a Gaivota somos remetidos à estranheza, a bizarria da forma narrativa e através disso a uma viagem direta para sentido vital da sua protagonista / vitima. Enquanto que em Elena o espectador sentia incomodo por penetrar em territórios tão pessoais da autora, nesta nova longa-metragem (em colaboração com Lea Glob) temos a tendência de julgá-la pela persistência de entranhar na vida, ainda a ser "escrita", da sua atriz, mesmo que esta demonstre por várias ocasiões as fronteiras impenetráveis e proibidas do seu ser.

Um exercício narrativo que tem sido várias vezes comparado com os triunfos literários atingidos por Virginia Woolf (Mrs. Dalloway). A obra assenta num diversificado registo tão distinto da autora, que se comporta como uma entidade divina no preciso momento em que chega a transformar a sua própria realidade, como se esta fosse barro maleável pronto para uma exibição. É uma peça de arte, se assim acreditarmos, que reúne a perfomance artística em conjugação com uma veia teatral forte (a protagonista é uma atriz de teatro em plena encenação de A Gaivota, de Anton Tcheknov, logo é evidente essa matriz) com a complexidade literária; a experimentação dos pensamentos da sua "heroína" como conduta narrativa a reter. Aliás, ela é o leme, enquanto as realizadoras adquirem um papel de almirantes em alto-mar.

Os medos da maternidade, a cedência às trivialidades do quotidiano e os sonhos desfeitos em prol do ciclo que a vida suscita, são pontos de reflexão que Oliva contrai , sujeita às intervenções das suas respetivas "patroas", agora ditadoras do seu dia-a-dia. Uma luta assinalada como se uma gaivota resistisse à tempestade. Olivia é essa gaivota (alusão ao filme), contando com Serge, o seu "olmo", a árvore medicinal que contrabalança a sua alma enclausurada.

Uma história de amor atormentada, mas rica em momentos românticos que salientam o seu "quê" de realidade, e tal é testemunhado logo nos primeiros minutos, onde Serge recita com tanta afeição Mi Sono Innamirato di Te (Luigi Tenco). Ocasionalmente belo e narrativamente utópico, Olmo e a Gaivota é uma peça-mestre na maleabilidade narrativa, e mostra como Petra Costa poderá tornar-se mais que somente uma promessa: uma poeta visual. Apesar de tudo, e infelizmente, não é o turbilhão de emoções que Elena fora, essa ainda (um pouco) desconhecida pérola do género documental.

O melhor - A complexidade narrativa e de temas partilhados nesta experiência fílmica
O pior - Petra Costa ainda ser ignorada em Portugal, nem mesmo devidamente mencionado pela imprensa.

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Olmo e A Gaivota

8/10/15 por Maitê Proença em As Meninas

Olmo

Ontem no Festival de Cinema do Rio, assisti a um filme lindo, sensível, único, da diretora Petra Costa.

A gente sai descansado das coisas da razão, ele contempla todo um outro aspecto, aquilo que compõe a parte mais inteligente, porque mais intuitiva.

Essa parte tão carente numa época de bla bla bla sobre tudo e todos. Olmo e a gaivota será exibido hoje no cine Odeon, no Rio. E logo nas próximas semanas entra no circuito comercial.


O "Olmo e a Gaivota": o filme de Petra Costa em Locarno

11/08/2015 por Rui Martins em A Tribuna

Petra Costa começou a escrever para o
teatro aos 14 anos


É uma pena o filme meio-brasileiro (feito em codireção e coprodução com a Dinamaca) Olmo e a Gaivota não estar na competição internacional, pois sua abordagem do tema da maternidade, numa visão bem feminina enriquecida de poesia e amor, teria certamente uma recompensa garantida.

Concorrendo na mostra paralela Cineastas do Presente, dedicada aos novos cineastas, Olmo e a Gaivota é codirigido pela brasileira Petra Costa e pela dinamarquesa Lea Glob, um filme considerado híbrido por ficar entre o documentário e a narrativa de ficção.

Petra Costa, cujo nome foi uma homenagem dos pais à figura histórica da esquerda brasileira, Pedro Pomar, começou a fazer cinema há seis anos com o curta Olhos de Ressaca, mostrado no Festival de Gramado, e a seguir o longa Elena, em 2012, com quatro premios no Festival de Brasília onde estreou, apresentando-se a seguir em muitos festivais internacionais.

Precoce, começou a escrever para teatro aos 14 anos, seguindo-se estudo de antropologia, que ela mesmo explica: “só com teatro eu não teria muita coisa para falar, o teatro era o veículo exigia um conteúdo. E antropologia no Brasil é muito importante porque o conhecimento está na terra e no povo. E a antropologia me ajuda muito nos meus filmes, me permitindo fazer uma etnologia ou arqueologia dos sentimentos, ao que se seguiu um mestrado em psicologia”.

Pormenor curioso, Petra não conhecia Lea Glob, que seria sua parceira na direção do filme. O encontro entre as duas decorreu de um convite de um festival dinamarquês de documentários, o CPH:DOX de Copenhague. Logo depois de se conhecerem com a atribuição de fazerem um filme, afinaram suas sensibilidades e elaboraram um primeiro projeto de uma investigação psicológica de uma mulher ligada ao teatro, contando os atos simples do cotidiano, tendo em vista os conhecimentos de Petra e seus contatos com o grupo do Thêatre du Soleil, que estivera no Brasil.

A evolução para um filme sobre a maternidade, ocorreu quando ao contatarem a atriz italiana Olivia Corsini, em Paris, ela lhes informou estar grávida do seu companheiro também ator do Thêatre du Soleil, o francês Serge Nicolai. O filme foi todo filmado em Paris, no bairro de Belleville, onde o casal ainda mora num apartamento alugado.

A sequência do filme nos mostra com muita sensibilidade: Olívia se preparava para uma peça teatral de Tchecov e acreditava poder trabalhar até às vésperas do parto, porém a gravidez se complicou logo do início, exigindo repouso e a impedindo de subir e descer as escadas do apartamento.

O primeiro choque foi doloroso porque precisou deixar de participar dos ensaios e da participação na estréia da peça em Nova Iorque. O filme busca captar esse clima no casal com a suspensão da carreira de Olívia que, na verdade continua, pois após o nascimento do menino, que recebeu o nome de Olmo, hoje com dois anos e com os pais em Locarno, Olívia deixou o Thêatre du Soleil por não poder assegurar uma presença diária de doze horas para repetições e apresentações, como os outros atores.

Petra conta ter feito uma pesquisa e verificado não haver filmes dedicados da maneira do filme Olmo e a Gaivota à complexidade dos sentimentos da mulher grávida, durante o crescimento de um outro ser dentro de seu corpo, e das repercussões da gravidez nas relações do casal.

“Depois do longo caminho para a mulher se afirmar como artista e como ser humano, diz Petra, a gravidez traz um novo momento, como o da atriz Olívia, obrigada a deixar tudo quanto havia conquistado no teatro para se abrir para o desconhecido, com o risco de abandono de toda uma carreira nem que seja temporariamente. Donde uma frase da personagem Arcádia, da peça de Tchecov, que Olívia ia interpretar – Acredito na minha arte e carrego essa cruz de ser artista!”

“E, Petra acrescenta, há também a questão do amor após a gravidez: existe uma relação pós-filho? O casal deixa de olhar só para si e passa a olhar para um outro com toda a adaptação necessária”.


Diário do Festival do Rio

10/10/2015 por Lucas Gutierrez no Ornitorrinco

== Olmo e a gaivota ==

No meio do caminho entre ficção e realidade, ou além de todas as noções de ficção e realidade, está esse novo trabalho de Petra Costa (’Elena’).

‘Olmo e a gaivota’ é simplesmente apaixonante. O projeto acompanha dois atores do Théâtre Du Soleil às voltas com uma gravidez e os ensaios para uma montagem de ‘A Gaivota’, de Tchekhov.

De início o espectador pensa se tratar de um documentário. No meio do caminho, passamos a questionar se o que estamos vendo é vida ou encenação. E eventualmente, nos desapegamos e deixamos de nos importar para apenar nos deleitarmos com um estudo poético da maternidade, do amor e do ofício de interpretar, protagonizado por personagens cativantes (como não querer abraçar Serge e Olivia, e fazer parte do seu grupo de amigos, cada um de um canto do mundo, dançando, bebendo e cantando ao violão?).

Se ‘Elena’ era uma poderosa estreia em longas-metragens, ‘Olmo e a gaivota’ - aqui co-assinado por Lea Glob - vem para consolidar Petra como uma das cineastas mais interessantes de se acompanhar no Brasil.