5 motivos para assistir ao filme 'Olmo e a Gaivota', de Petra Costa e Lea Glob

21/10/2015 no Catraca Livre

Divulgação

Premiado no Festival do Rio 2015, "Olmo e a Gaivota", novo filme da diretora Petra Costa ("Elena", 2012), com codireção da dinamarquesa Lea Glob, traz a união entre ficção e realidade. Na obra, os atores do Théâtre du Soleil, Olivia Corsini e Serge Nicolaï, representam a si mesmos na experiência da gravidez real da atriz, enquanto é encenada a peça "A Gaivota", do russo Tchekhov.

Os meses de gravidez se desdobram como um rito de passagem, forçando a atriz a confrontar seus sentimentos e medos mais obscuros. O desejo de Olivia por liberdade e sucesso profissional bate de frente com os limites impostos pelo seu próprio corpo. Ao se olhar no espelho, ela vê as duas personagens femininas de "A Gaivota" como reflexos de si mesma. Veja o trailer abaixo:

O filme está na programação da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que começa nesta quinta-feira (22). Veja os horários e locais de exibição aqui.

Selecionamos 5 motivos para você assistir ao "Olmo e a Gaivota". Confira:

1. O filme ganhou o prêmio de melhor documentário no 17º Festival do Rio, no dia 13 de outubro deste ano. Também foi premiado no 68º Festival de Locarno, onde fez sua estreia mundial no dia 10 de agosto.

2. É o segundo longa de Petra Costa, depois do elogiado "Elena" (2012), no qual a diretora se aprofunda na intimidade da própria família ao abordar de forma poética e abstrata o suicídio da irmã.

3. O documentário é produzido pela Zentropa Enterteinments (empresa de Lars Von Trier), pela produtora O Som e a Fúria (a mesma dos longas de Miguel Gomes e Manoel de Oliveira) e pela Busca Vida Filmes, do Brasil. Tim Robbins é o produtor executivo.

4. Embora tenha sido classificada como documentário no Festival do Rio, a obra explora a fronteira entre ficção e realidade. Em certo momento, o filme tem uma nova virada quando o que parece ser encenação revela-se como a própria vida. Ou seria o inverso? A investigação do processo criativo nos convida a questionar o que é real, o que é imaginado e o que sacrificamos e celebramos em nossas vidas.

5. A atriz italiana Olivia Corsini está de fato grávida, o que torna a trama ainda mais interessante. Durante as filmagens, ela teve que anotar os questionamentos sobre essa nova fase de sua vida, por exemplo, como equilibrar teatro e maternidade. Os relatos viraram narrações em "off".


“É um tabu milenar”, diz cineasta premiada Petra Costa sobre gravidez

15/10/2015 por Denise Meira do Amaral no Glamurama

Petra Costa levou o prêmio de melhor documentário no Festival do Rio com seu novo filme "Olmo e a Gaivota"

Petra Costa levou o prêmio de melhor documentário no Festival do Rio com seu novo filme “Olmo e a Gaivota” Crédito: Muhammed Hamdy

Sensível, engajado e com um olhar que só poderia ter sido percebido por uma mulher. Assim é o “Olmo e a Gaivota”, novo filme de Petra Costa, com codireção da dinamarquesa Lea Glob, que levou o prêmio de melhor documentário no Festival do Rio, na última terça-feira. Explorando os limites entre o real e o ficcional, o longa mostra um casal de atores do Théâtre du Soleil, Olivia e Serge, que descobriram durante as filmagens que teriam um bebê.

Em conversa com o Glamurama, a diretora de 32 anos falou sobre o filme e as dificuldades que cercam o tema da gestação: “Falar de gravidez é um tabu milenar. E isso vem desde a Nossa Senhora, que dá a luz a uma criança mesmo sendo virgem”.

Por Denise Meira do Amaral

Glamurama: Você veio do teatro e conheceu a Olivia [protagonista do filme] em cena durante a passagem do Théâtre du Soleil pelo Brasil. Quando você percebeu que dali teria um filme?
Petra Costa: “Tinha um desejo de fazer um filme que fosse filmado com dinâmica de um grupo de teatro, com um espírito mais vivo e menos hierárquico que o set de filmagem costuma ter. Eu participei de alguns ensaios do Soleil, pude ver como eles trabalhavam e fiquei encantada. Surgiu então o desejo de explorar isso. E quando conheci Olívia [ela ainda não estava grávida], descobri que ela tinha se identificado muito com “Elena” [seu filme anterior, sobre a irmã mais velha de Petra que se matou aos 20 anos].”

Glamurama: O filme navega entre o ficcional e o real. Era sua intenção brincar com esse limiar?
Petra Costa: “A ideia era essa, estar nesse limite entre ficção e a realidade, que é o limite que está muito presente quando se fala de um casal encenando a própria vida. Queria explorar isso, esse olhar com certo estranhamento pela própria vida.”

Glamurama: Os diálogos foram escritos por você ou eram dos atores?
Petra Costa: “Eu tinha várias partes já escritas, mas muitas foram improvisadas. O roteiro ia mudando diariamente. Tem diálogos que foram criados através de escritos do diário real de Olivia e outros que foram criados por mim.”

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Olivia em cena do filme “Olmo e Gaivota” Crédito: Divulgação

Glamurama: “Elena” e “Olmo” são filmes supersensíveis e femininos. Falta um olhar feminino no mundo do cinema?
Petra Costa: “Eu acho. Uma coisa me impressionou muito ao fazer esse filme: quando Olivia ficou grávida, comecei a explorar essa questão da gravidez no cinema e um dos únicos retratos mais profundos sobre a gravidez que eu encontrei foi o “Bebe de Rosemary” [de 1969, do diretor Roman Polanski]. Geralmente se olha para a gravidez de uma forma muito clichê. Apesar de todo ser humano existir da gravidez, quase não existe um retrato psicológico do que se passa na mulher nesses nove meses.”

Glamurama: Falar de gravidez é um tabu?
Petra Costa: “É um tabu milenar. E isso vem desde a Nossa Senhora, que dá a luz a uma criança mesmo sendo virgem. Tudo que é político desse momento de criação é retirado, como um esforço de tirar os direitos da mulher sobre o próprio corpo. Porque o corpo é um lugar extremamente político e os filmes sempre tentaram esvaziá-lo. Ele é quase sempre um lugar de desejo do homem, e não da mulher. Só em 30% dos filmes a mulher fala e quando ela fala, é sobre os homens. Como atriz, a mulher sempre fica entre a santa e a puta. Virginia Woolf já tinha apontado isso na literatura. É a visão do homem sobre a mulher.”

Glamurama: Acompanhar os bastidores de uma gravidez abriu uma janela de um novo mundo para você?
Petra Costa: “Acompanhei bem de perto essa jornada. Pelo menos no caso de Olivia foi uma jornada. Pra mim interessou muito mergulhar nesse momento porque eu vejo a vida como um rito de passagem. ‘Elena’ fala muito do rito de passagem da adolescência pra vida adulta. Mas quando você vira mãe, quando decide mudar seu corpo para outro ser, você tem que abrir mão dessa identidade que conquistou pra uma identidade que ainda é desconhecida. Um homem pode facilmente não assumir uma paternidade. Já a mulher, não. Vai ser condenada por todos. É um caminho que não tem volta. E é incrível como não se fala nisso! Se as mulhres tivessem mais acesso sobre a complexidade do que é essa jornada, já facilitaria muito. Não falar das problemáticas que podem vir abre mais portas pra depressões pós-parto e outras milhares de questões que estão ali debaixo do tapete.”

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Petra fez teatro dos 14 aos 20 anos, é formada em antropologia, mestre em psicologia social e doutoranda em Cinema e Filosofia. Ela está agora escrevendo o roteiro de seu próximo longa, “Estranha Fruta”. Abaixo, o discurso de Petra ao ganhar o prêmio de melhor documentário por “Olmo e a Gaivota”, no Festival do Rio. “Queria dedicar esse prêmio à minha mãe e e às mulheres, e que em breve no Brasil toda mulher tenha soberania total sobre seu próprio corpo, seja para rejeitar uma gravidez com um aborto ou seja para mergulhá-la. Espero que nenhuma mulher sofra machismo verbal ou físico, desde a presidente, cineastas, atrizes e domésticas”, disse a diretora.


Em ‘Olmo e a gaivota’, diretora Petra Costa provoca atores

17/10/2015 por Fabiano Ristow em O Globo

Em ‘Olmo e a gaivota’, diretora Petra Costa provoca atores

Premiado no Festival do Rio, documentário mistura realidade com atuação

POR FABIANO RISTOW

17/10/2015 6:00
Cena de 'Olmo e a gaivota' - Divulgação

RIO — Depois de se aprofundar na intimidade da própria família em seu elogiado longa-documentário de estreia, “Elena” (2012), no qual abordava de forma poética e abstrata o suicídio da irmã, Petra Costa sentiu que era hora de “ir para fora”, nas palavras da própria. Foi assim que nasceu “Olmo e a gaivota”, premiado como melhor documentário do 17º Festival do Rio, na terça-feira passada.

— Eu estava fascinada para trabalhar com atores, pois venho do teatro, mas, ao mesmo tempo, queria continuar a investigar a arqueologia de afetos — reflete a mineira. — Meu interesse, tanto nesses dois filmes quanto no meu curta “Olhos de ressaca” (2009), é pegar uma situação e mergulhar em suas camadas mais profundas, em termos psicológicos.

Em “Olmo...”, Petra, que divide a direção com a dinamarquesa Lea Glob, se debruça sobre a intimidade alheia, ao acompanhar de perto um casal de atores: a italiana Olivia Corsini e o francês Serge Nicolaï, do Théâtre du Soleil, de Paris. Olivia se vê obrigada a abandonar repentinamente os palcos por conta de uma gravidez.

— São dois atores talentosos e generosos que abriram suas vidas com muita facilidade. Compartilharam com a gente todo o material de arquivo que tinham. Olivia registrou, durante os nove meses de gestação, um diário narrando pensamentos bem íntimos.

Petra diz não ter se preocupado com os possíveis conflitos que normalmente surgem quando uma equipe de cinema segue de forma muito próxima questões tão pessoais. “Toda crise gera evolução”, ela dizia para si mesma. E houve pelo menos uma:

— Na primeira vez em que a Olivia assistiu ao filme, ela teve um choque, um medo de não se reconhecer completamente no que estava na tela. Questionou algumas coisas. Mas, logo depois, se identificou — diz Petra.

SEQUÊNCIA ENCENADA

Embora “Olmo...” tenha sido classificado como documentário no Festival do Rio, ele explora a fronteira entre realidade e atuação, o que é ressaltado, por exemplo, quando Petra pede que seus personagens repitam um diálogo, mas com motivações diferentes. Além disso, a cena de abertura, em que Olivia descobre que está grávida, foi rodada após o nascimento do bebê — portanto, numa sequência totalmente encenada.

— Eu intervinha nas cenas sem me preocupar se minha voz, por exemplo, ia aparecer. Meu interesse era provocá-los. Você vê a potencialidade de um ator no momento em que ele muda a improvisação assim que recebe uma nova orientação do diretor.


Doc acompanha drama de atriz grávida

Outubro de 2015 no Metro Rio

Olivia Corsini é uma atriz italiana que se surpreende quando está prestes a estrear “A Gaivota”, do russo Anton Tchekov. Um teste de gravidez confirma sua suspeita: ela está grávida de Serge Nicolai, ator com quem divide os palcos.

Todo o desconcerto da atriz diante da situação foi registrado pelas lentes das diretoras Petra Costa e Lea Glob, dando origem ao filme “Olmo e a Gaivota” que concorre na categoria “longa documentário” do Festival do Rio.

Na quarta-feira, o documentário foi exibido pela primeira vez no Brasil, e entra em cartaz nas salas de cinema no dia 5 de novembro.

“Eu quis trazer a questão da gravidez com um olhar crítico e ínvestigativo”, explica Petra. “Foi um diário de gravidez muito rico. a Olivia fala coisas que não diria após o nascimento do filho. São medos abstratos.”

Em certo momento, a atriz diz que sente como se estivesse carregando um extraterrestre na barriga. Foi preciso bastante diálogo para que ela aceitasse a inclusão de cenas como essa no filme. “O documentário trabalha com essa linha tênue entre o que é público e o que é muito íntimo”, destaca a diretora.


Novo filme da diretora de Elena é premiado em festival de documentários em Copenhague

17/11/2014 no BlogDOC

O filme Olmo e a Gaivota (Olmo and The Seagull), dirigido pela dinamarquesa Lea Glob e pela brasileira Petra Costa – criadora de Elena – foi o vencedor do festival de documentário CPH:DOX, encerrado neste domingo (16) em Copenhague. Coprodução entre Dinamarca, Brasil, Portugal e França, o longa foi premiado na categoria de melhor filme nórdico.

Olmo e a Gaivota é um filme poético que acompanha o mergulho existencial de uma atriz durante seus nove meses de sua gravidez, enquanto ela confronta seus demônios interiores e tenta construir uma nova filosofia de vida. É um híbrido de documentário e ficção, livremente inspirado no livro Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf.

O longa-metragem tem no elenco a italiana Olivia Corsini e o francês Serge Nicolaï, do Thêátre du Soleil. A produção executiva é de Tim Robbins.

Segundo os diretores, a ideia era propor aos atores uma mise-en-scène da própria vida, atuando na fronteira entre ficção e não ficção.


Olmo e a Gaivota

21/08/2015 por Hugo Gomes no C7NEMA

Depois de ter partilhado a sua dor através de um tributo intimo à sua falecida irmã, Petra Costa decide explorar as crises existenciais de uma atriz promissora, Oliva, cuja vida se altera drasticamente após a descoberta da sua gravidez.

Tal como a sua primeira longa-metragem , Elena, Costa regressa ao estilo inconformado do documentário, numa reinvenção com pé assente na fição e outro no limiar da realidade e da manipulação cinematográfica. Poderíamos salientar que em Olmo e a Gaivota somos remetidos à estranheza, a bizarria da forma narrativa e através disso a uma viagem direta para sentido vital da sua protagonista / vitima. Enquanto que em Elena o espectador sentia incomodo por penetrar em territórios tão pessoais da autora, nesta nova longa-metragem (em colaboração com Lea Glob) temos a tendência de julgá-la pela persistência de entranhar na vida, ainda a ser "escrita", da sua atriz, mesmo que esta demonstre por várias ocasiões as fronteiras impenetráveis e proibidas do seu ser.

Um exercício narrativo que tem sido várias vezes comparado com os triunfos literários atingidos por Virginia Woolf (Mrs. Dalloway). A obra assenta num diversificado registo tão distinto da autora, que se comporta como uma entidade divina no preciso momento em que chega a transformar a sua própria realidade, como se esta fosse barro maleável pronto para uma exibição. É uma peça de arte, se assim acreditarmos, que reúne a perfomance artística em conjugação com uma veia teatral forte (a protagonista é uma atriz de teatro em plena encenação de A Gaivota, de Anton Tcheknov, logo é evidente essa matriz) com a complexidade literária; a experimentação dos pensamentos da sua "heroína" como conduta narrativa a reter. Aliás, ela é o leme, enquanto as realizadoras adquirem um papel de almirantes em alto-mar.

Os medos da maternidade, a cedência às trivialidades do quotidiano e os sonhos desfeitos em prol do ciclo que a vida suscita, são pontos de reflexão que Oliva contrai , sujeita às intervenções das suas respetivas "patroas", agora ditadoras do seu dia-a-dia. Uma luta assinalada como se uma gaivota resistisse à tempestade. Olivia é essa gaivota (alusão ao filme), contando com Serge, o seu "olmo", a árvore medicinal que contrabalança a sua alma enclausurada.

Uma história de amor atormentada, mas rica em momentos românticos que salientam o seu "quê" de realidade, e tal é testemunhado logo nos primeiros minutos, onde Serge recita com tanta afeição Mi Sono Innamirato di Te (Luigi Tenco). Ocasionalmente belo e narrativamente utópico, Olmo e a Gaivota é uma peça-mestre na maleabilidade narrativa, e mostra como Petra Costa poderá tornar-se mais que somente uma promessa: uma poeta visual. Apesar de tudo, e infelizmente, não é o turbilhão de emoções que Elena fora, essa ainda (um pouco) desconhecida pérola do género documental.

O melhor - A complexidade narrativa e de temas partilhados nesta experiência fílmica
O pior - Petra Costa ainda ser ignorada em Portugal, nem mesmo devidamente mencionado pela imprensa.